Depressão Geriátrica

Rosane Ruzzante TaroterapiaSegundo pesquisas de órgãos competentes e de grande credibilidade, o número de idosos vem aumentando muito nos últimos anos. No ano de 2010 havia 15 milhões de pessoas acima dos 65 anos de idade e estima-se que em 2050 haverá um total de 20 milhões, sendo a população considerada idosa o grupo de maior crescimento populacional.

A princípio esses dados pouco interessavam à psicanálise por ser uma ciência de pouca eficácia para essa faixa etária. Considerava-se no início desses estudos que, pessoas acima dos 50 anos já estariam cristalizadas em seus conflitos e os tratamentos seriam ineficazes. Ideias totalmente descartadas nos dias atuais, graças a Deus, pois hoje acredita-se que, enquanto há vida, há possibilidades de muitas mudanças, dependendo da disponibilidade da pessoa, seja ela qual idade tiver.

O processo de envelhecimento humano, envolve uma enorme quantidade de variáveis no desenvolvimento individual e coletivo de uma sociedade, abrangendo contextos biológicos e psicológicos (individuais) e comprometimento nos contextos socioeconômicos e culturais (coletivos).

A psicanálise trouxe uma nova visão sobre o ser humano e percebe o idoso como pessoas que vivenciaram muitas experiências no percurso de suas vidas, mas na atual fase da vida em que se encontram, estão propensos a sofrerem muitas perdas físicas (diminuição da agilidade de movimentos, dores articulares, desgastes ósseos, imobilidade muscular, dificuldades de memória, etc) e psicológicas (mudanças profissionais, aposentadoria, morte de pessoas próximas, afastamento de pessoas queridas, perda de importância familiar, marginalização, etc). Isso é motivo do aparecimento de quadros psicológicos desde os mais simples até os bastante sérios, pois todos esses lutos, associados à fantasias a respeito da própria morte podem evoluir de estados de tristeza, prostração, melancolia para depressões maiores de difícil reversão.

O idoso necessita muitas vezes de um tratamento psicanalítico para se reinventar, descobrir novos padrões e vida e estabelecer novas prioridades e possibilidades, desapegando-se de suas rotinas passadas, entendendo que não poderão mais ser possíveis devido às mudanças que o tempo de vida impôs. 

O psicanalista pode ser muito útil para essas pessoas nesse processo de envelhecimento, ajudando-as a elaborar as perdas e frustrações típicas da velhice, entendendo-as como frutos das experiências vivenciadas ao longo de suas vidas, estabelecendo uma ponte, uma ligação entre aquilo que foram e o que são, ressignificando todo o processo para que haja essa renovação, sempre possível desde que haja vida.

A relação com o tempo é uma das principais causas do mal-estar que tem sua origem no desamparo e na angústia do idoso, pois vem carregado de uma percepção de que a vida tem um fim e que ele está mais próximo a cada dia. Ele percebe isso na sua imagem no espelho, nas dificuldades de locomoção que antes não existiam, na perda de amigos e entes queridos que o antecedem, na impossibilidade de exercer a profissão que o ocupou durante tantos longos anos. Necessita então de uma nova motivação de vida, novas ocupações e metas, novas maneiras de se relacionar com as diferenças de situações que a vida o coloca, seja em relação aos seus afazeres como o relacionar-se com a própria família.

Isso se torna mais difícil quanto maior for o seu saudosismo ou à melancolia que sente ao se lembrar do passado, de quem era ou mesmo do poder que tinha sobre si e sobre os outros. Precisa desapegar-se do que foi e olhar para frente com todos os desafios que a nova realidade pode lhe oferecer. Ressignificar sonhos acalentados por tanto tempo, pode não ser uma tarefa fácil para o idoso e é aqui que a Psicanálise pode ajudar. O compartilhamento e a rememoração das experiências vividas durante toda a sua vida, podem ajudar o idoso na reconstrução de uma nova identidade, ressignificando memórias, libertando-o de sentimentos como raiva, mágoa, amores perdidos ou simples saudade de algo que não mais voltará. Um bom tratamento psicanalítico pode ajudar o idoso a sair de sua apatia, tristeza e possível prostração, redefinindo-se diante das mudanças até mesmo de pequenos hábitos, substituindo por algo mais adaptado às suas limitações atuais até inclusive, refazer seu papel na família e na sociedade de maneira geral.

A prática da Psicanálise se transforma aqui numa excelente ferramenta de ouvir, sendo apenas isso que muitos idosos almejam: ouvir histórias, permitir que experiências sejam transmitidas e valorizadas podem dar ao ser humano envelhecido, validação para toda a sua vida com a impressão de que ela não foi vivida em vão. Muito foi construído, mudanças foram implementadas internas e externas, sucessos e decepções, amores e outras emoções, ilusões com suas desilusões correspondentes, enfim, quantos ensinamentos os jovens humanos não podem tirar de uma simples tarde de rememorações. Já o psicanalista tem em seus ouvidos acolhedores, uma ferramenta poderosa de aumentar a auto-estima já tão abalada desse idoso que vê assim, amenizada sua angústia pelo tempo que se escoa rapidamente em seus minutos do dia em que se mantém alheio aos acontecimentos, acreditando que nada mais resta a ele fazer na vida. Depressão Geriátrica.

Além da escuta, a Psicanálise pode ter um importante papel na preservação da qualidade de vida do ser humano em idade avançada. Partindo-se do pressuposto que o inconsciente é o principal sujeito de estudo da Psicanálise e este não envelhece pois é atemporal, seus estímulos e pulsões permanecem atuantes, mesmo que o idoso não manifeste mais a mesma quantidade de desejo liberada pela libido desde a sua infância. Com o avançar da idade, as dificuldades de ereção (para homens) e a menopausa (para as mulheres), podem levar a uma depressão de grandes efeitos se não puderem ter seus elementos pulsionais redirecionados e adaptados à nova realidade física, psíquica e social do sujeito envelhecido. É preciso um esforço do psicanalista assim como de cuidadores e familiares próximos em ajudá-lo a encontrar novos “Ideais do Eu” onde a assombração do fracasso pode ser substituída pela consciência de que, chegar à velhice já pode significar um grande sucesso e a partir daí, traçar novas atividades onde toda essa energia que ainda provém do inconsciente possa ser utilizada de maneira saudável tanto para o físico quanto para a psiquê. A empatia do psicanalista com seu paciente idoso, renova a confiança deste que tende a acreditar mais em si e nas oportunidades que a vida ainda pode lhe oferecer, proporcionando a motivação tão necessária para a superação da depressão geriátrica.

Portanto, enquanto o advento de medicações e a melhoria de saneamento básico que prolongam a vida do corpo humano, a Psicanálise adquire uma importância fundamental no prolongamento da saúde mental dessa sociedade que envelhece fisicamente a olhos vistos, mas que carece urgentemente de uma qualidade de vida psicológica que somente pode ser conseguida através da valorização humana com práticas que possam auxiliar nesse processo de envelhecimento, revitalizando esses seres que ainda muita vida possuem e muito podem contribuir para o engrandecimento da humanidade.

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